terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

CS Lewis, Palavras de um ex-ateu


C.S. Lewis e sua esposa, Joy Davidman.
    Eu tinha vários assuntos em mente para tentar escrever hoje neste nosso espaço. Porém devido a algumas experiências recentes, [não muito felizes] achei mais apropriado postar sobre o que se segue. Tinha em mente uma citação de um de meus autores prediletos [terão de se acostumar com minhas constantes referências ou citações, ainda assim me esforçarei para ser moderada] o Sr. Clive Staples Lewis. A sensação que tenho quando o leio é como se eu fosse uma criança totalmente paralisada pela conversa cativante e sua ironia bem humorada com seu avô, a quem ela tanto venera.
   No entanto, o post de hoje perdeu um pouco essa doçura. Posto o tema de hoje com tristeza, tristeza por ver ao meu redor pessoas totalmente cegas e controladas pelo que chamo de suas violentas defesas de seus pecados. Em uma determinada circunstância, algumas pessoas me vieram censurar pela nossa postura como cristãos a respeito do homossexualismo. Mas o que mais me horrorizou não foi o fato de meus argumentos terem entrado num ouvido e saído pelo outro, a questão foi ver que alguns deles se diziam "cristãos", outros disseram terem sido congregados na nossa igreja e ao mesmo tempo falando coisas tão terríveis e sem nexo nenhum!! Despedaçou meu coração escutar aquelas coisas, falando das igrejas e de nossos Pastores, generalizando tudo.
   Geralmente quando alguém vem com um discurso sem coerência e se nota a completa falta de inteligência e pouca validade de argumentação, eu ignoro sem culpa. Mas desta vez foi diferente, muito diferente. Deixo a palavra ao Sr. CS Lewis, que tem muito mais propriedade para explicar-nos o porquê acontecem essas coisas.

    "O que eu não via en­tão — e muita gente ainda não vê — é o seguinte: eu supu­nha que, a partir do momento em que a mente huma­na aceita algo como verdadeiro, vai automaticamente continuar considerando-o verdadeiro até encontrar um bom motivo para reconsiderar essa opinião. Na verdade, eu partia do pressuposto de que a mente é completa­mente regida pela razão, o que não é verdade. Vou dar um exemplo. Minha razão tem motivos de sobra para acreditar que a anestesia geral não me asfixiará e que os cirurgiões só começarão a operar quando eu estiver com­pletamente sedado. Isso, porém, não altera o fato de que, quando eles me prendem na mesa da operação e me cobrem a face com sua tenebrosa máscara, um pânico infantil toma conta de mim. Começo a pensar que vou me asfixiar e que os médicos vão começar a cortar meu corpo antes que eu perca a consciência. Em outras pa­lavras, perco a fé na anestesia. Não é a razão que me faz perder a fé: pelo contrário, minha fé é baseada na razão. São, isto sim, a imaginação e as emoções. A batalha se dá entre a fé e a razão, de um lado, e as emoções e a ima­ginação, de outro.

    ...Va­mos supor, entretanto, que a razão de um homem deci­da a favor do cristianismo. Posso prever o que vai acon­tecer com esse sujeito nas semanas seguintes. Chegará um momento em que receberá más notícias, terá pro­blemas ou será obrigado a conviver com pessoas descren­tes; nesse momento, de repente, suas emoções se insur­girão e começarão a bombardear sua crença. Haverá, além disso, momentos em que desejará uma mulher, sentir-se-á propenso a contar uma mentira, ficará vaidoso de si mesmo ou buscará uma oportunidade para ganhar um dinheirinho de maneira não totalmente lícita; nes­ses momentos, seria muito conveniente que o cristianis­mo não fosse a verdade. Mais uma vez, suas emoções e desejos serão artilharia pesada contra ele. Não estou fa­lando de momentos em que ele venha a descobrir no­vas razões contrárias ao cristianismo. Essas razões têm de ser enfrentadas, e isso, de qualquer modo, é um assunto completamente diferente. Estou falando é dos meros sentimentos que se insurgem contra ele.

    A fé, no sentido em que estou usando a palavra, é a arte de se aferrar, apesar das mudanças de humor, àquilo que a razão já aceitou. Pois o humor sempre há de mudar, qualquer que seja o ponto de vista da razão. Agora que sou cristão, há dias em que tudo na religião parece muito improvável. Quando eu era ateu, porém, passava por fases em que o cristianismo parecia probabilíssimo. A rebelião dos humores contra o nosso eu ver­dadeiro virá de um jeito ou de outro. E por isso que a fé é uma virtude tão necessária: se não colocar os humores em seu devido lugar, você não poderá jamais ser um cristão firme ou mesmo um ateu firme; será apenas uma criatura hesitante, cujas crenças dependem, na ver­dade, da qualidade do clima ou da sua digestão naque­le dia. Conseqüentemente, temos de formar o hábito da fé.

    O primeiro passo para que isso aconteça é reco­nhecer que os sentimentos mudam. O passo seguinte, se você já aceitou o cristianismo, é garantir que algumas de suas principais doutrinas sejam mantidas deliberadamente diante dos olhos de sua mente por alguns mo­mentos do dia, todos os dias. É por esse motivo que as orações diárias, as leituras religiosas e a freqüência aos cultos são partes necessárias da vida cristã. Temos de nos recordar continuamente das coisas em que acreditamos. Nem essa crença nem nenhuma outra podem perma­necer vivas automaticamente em nossa mente. Têm de ser alimentadas. Aliás, se examinarmos um grupo de cem pessoas que perderam a fé no cristianismo, me pergun­to quantas delas o terão abandonado depois de conven­cidas por uma argumentação honesta. Não é verdade que a maior parte das pessoas simplesmente se afasta, como que levadas pela correnteza?"
    [CS Lewis - Cristianismo Puro e Simples, págs 185-188]



"Ore frequentemente, porque a oração é o escudo da alma, um sacrifício a Deus e um açoite para Satanás". [John Bunyan]

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